sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE)

O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) promove o acesso à cultura e o incentivo à formação do hábito da leitura nos alunos e professores por meio da distribuição de acervos de obras de literatura, de pesquisa e de referência. Desde que foi criado, em 1997, o programa vem se modificando e se adequando à realidade e às necessidades educacionais. Sob a gestão do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), tem recursos financeiros originários do Orçamento Geral da União e da arrecadação do salário-educação.

O PNBE atende, em anos alternados, à educação infantil e ao primeiro segmento do ensino fundamental e ao segundo segmento do ensino fundamental e ensino médio. As obras distribuídas incluem textos em prosa (novelas, contos, crônica, memórias, biografias e teatro), obras em verso (poemas, cantigas, parlendas, adivinhas), livros de imagens e livros de histórias em quadrinhos.



Programa “Salto para o Futuro”- incentivo à leitura na escola

O Programa “Salto para o Futuro” integra a grade da TV Escola (canal do Ministério da Educação). É uma das faixas de programação do canal dirigida especialmente à formação continuada de professores do ensino fundamental e médio, atendendo também a temas de interesse para a educação infantil. (http://tvbrasil.org.br)
Um tema de grande relevância disserta sobre “Eventos literários e formação do leitor” (Ano XVIII - boletim 16 - Setembro de 2008). Essa temática é importante na medida em que contribui para a conscientização do professor quanto à necessidade de promover uma leitura literária de qualidade para e com seus alunos, principalmente na participação de eventos literários.
O documento é divididos em 5 eixos: A escola e os eventos literários, por Lêda Maria da Fonseca; O professor leitor e formador de leitores por Jonê Carla Baião; O impacto dos eventos literários na comunidade e na escola por Gabriela Gibrail; O encontro do leitor com o autor por Sandra Pina; Incentivando a produção escrita/ Formando novos autores por Anna Claudia Ramos.
Com essas repartições as autoras conseguem ampliar a noção do trato com a leitura literária dentro da comunidade escolar como um todo. Além disso, deixam claro que objetivam “analisar como os eventos literários podem contribuir para a formação de um leitor, e descobrir em que medida tais eventos podem provocar, em alunos e professores, a vontade de embarcar na leitura de um livro”.
E, que esse livro não seja uma literatura descartável, de modismos, de auto-ajuda, dentre outras, mas que leve a uma viagem repleta de magias, príncipes, reis, princesas, rainhas, árvores, bonecas, animais falantes. Enfim, aonde o pó de pirlimpimpim conduza adultos e crianças ao imaginário mais belo.
Para que um evento literário de qualidade ocorra dentro das escolas e que envolvam a comunidade escolar como um todo, requer muito planejamento a fim de selecionar as obras a serem lidas, as formas de trato das informações das leituras dos alunos, o autor a ser convidado, a qualidade e o preços dos livros expostos para venda, e muitos outros cuidados são necessários. Lembrando que não somente quando a escola quer promover um evento literário interno, mas esses cuidados também deverão permear, ainda, as visitações em eventos de literatura. Saber o quando, o onde e o como são essenciais na organização de um evento literário interno ou externo (por exemplo: as excursões).
O estudante é parte fundamental desse processo, mas cabe também ao professor instigar a leitura literária dentro e fora da escola, aproximando pais e alunos nos eventos literários. O professor que deseja que seu aluno tenha gosto pela leitura literária deve ser o primeiro exemplo. Portanto, um professor que não tem hábitos de leitura provavelmente não atingirá em seu aluno o gosto pela leitura literária, tal como esperado.
Cabe à direção escolar promover meios de participação da comunidade na biblioteca, facilitando o empréstimo de livros à comunidade e contribuindo para o contato dessa com os livros.
Outro fator importante a ser pensado é quanto ao encontro do leitor com o autor, saber quem, quando e para que convidar determinado autor em detrimento de outros. Não agir por modismos é fundamental e convidar um autor para falar de suas obras é muito necessário num evento literário. Cabe ressaltar que a escolha deve envolver os alunos, para que o debate seja mais proveitoso e as crianças possam retirar dúvidas com o próprio autor dos livros que estão lendo. O professor não deve “treinar” perguntas e respostas com seus alunos para o dia do encontro, as perguntas devem partir dos alunos sem prévio treinamento.
Enfim, esse Programa vai dar muitos direcionamentos sobre como agir para que a escola tenha um evento literário de qualidade e que, principalmente, os alunos se sintam parte integrante e essencial desse processo de leitura.(http://portaldaeducacao.wordpress.com)



Sugestões de leituras para crianças:

 Crianças Famosas
Além de criar os famosos personagens infantis - Emília, Narizinho, Visconde de Sabugosa, Dona Benta e tantos mais -, Monteiro Lobato brigou por suas ideias e opiniões, marcando sua presença no cenário brasileiro.
Neste livro, que faz parte da coleção Crianças Famosas, os autores contam como foi a infância do escritor. 
ROSA, Nereide Schilaro. Crianças Famosas, editora Callis, 2010



Meu Nome é Picasso
Este famoso pintor espanhol revolucionou as artes plásticas no século passado. Picasso foi um gênio e teve uma vida muito intensa. Nascido numa pequena cidade da Espanha, ainda adolescente ele foi viver em Barcelona e logo depois, Paris. Na cidade luz, Picasso se tornou o célebre artista plástico do século 20. Conheça a instigante vida desse grande artista, criador de obras fundamentais das artes plásticas.
Este livro, que faz parte da coleção Meu nome é, os autores contam a história de grandes personalidades do mundo: Leonardo da Vinci, Charles Darwin, Albert Ainstein, Marco Pólo, Mozart, Van Gogh, Alexandre o Grande.
Meu nome é Picasso. Editora Publifolha, ed.1, 2007.


 Lagartixas e Dinossauros
Eram pequenas e o mundo as comportava. Mas a serpente lhes falou com voz suave, prometendo grandeza e beleza limitadas... Que se passará com as lagartixas? Que passará com os homens?
O livro é de Rubem Alves, com ilustrações de André Janni, é uma produção da Editora Loyola e possui 32 páginas de muito encantamento, ensinamento e suspense. Vale muito à pena ler!
ALVES, Rubens. Lagartixas e Dinossauros.Editora Loyola

                                                         
  Poemas para crianças
Várias gerações foram conquistadas pela poesia de Fernando Pessoa e a dos seus heterônimos, mas poucos se lembram que ele escreveu poemas para crianças. Neste livro, estão reunidos poemas que o autor fez especificamente para sua sobrinha Manuela ? ou para a boneca de Manuela, Lili ? e alguns que podem ser lidos por toda criança sensível à beleza do verso e das imagens. Com seleção e apresentação do poeta Alexei Bueno, e ilustrações de Lu Martins, a presente edição da Martins Fontes revela mais esta face de um dos mais importantes poetas em língua portuguesa.
Pessoa, Fernando. Poemas Para Crianças. Editora Martins Fontes, 2007.


Poemas Para Brincar
Este clássico da literatura infantil brasileira, que até já virou peça de teatro, é um gostoso convite para a criança mergulhar no mundo da poesia. Considerado altamente recomendável para a criança pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Prêmio Jabuti de melhor livro infantil.
Prêmio Jabuti de melhor ilustração de livro infantil.
Poemas Para Brincar. Editora Ática, ed. 16, 2010. 












Projetos de formação de leitores
Formar leitores de literatura sempre foi um desafio, independente de qual seja o objetivo dessa formação. Houve épocas em que a literatura era privilégio de alguns grupos, que se esforçavam para que esse hábito não ultrapassasse os limites estabelecidos por eles. Com o passar do tempo, ela foi sendo difundida entre outros grupos, mas utilizada como pretexto para propagar idéias dominantes, imposições de normas sociais e modelo de uma cultura louvável que deveria ser imitada. Felizmente, nas últimas décadas, percebemos mudanças significativas na concepção de usos da literatura, que passou a ser mais buscada pelo prazer que proporciona e menos pelos ensinamentos e lições que possa transmitir. Atualmente, encontramos vários projetos que procuram, de formas diferenciadas, desenvolver nas pessoas o gosto pela leitura literária. Todos eles tem como princípio o respeito ao leitor, que agora possui o direito de escolher o quê, para quê e como ler. Entre esses projetos citamos:

“Teia de textos, Leitura para todos”, nos ônibus de BH






Literatura brasileira

História da literatura brasileira, Escolas Literárias do Brasil, Quinhentismo, Barroco, Arcadismo,
Romantismo, Realismo, Parnasianismo, Simbolismo, Modernismo, Neo-realismo




Versos íntimos


 Augusto dos Anjos
 Vês!Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!



O poema acima foi incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001, pág. 61.


Testamento

Manuel Bandeira

O que não tenho e desejo
É que melhor me enriquece.
Tive uns dinheiros — perdi-os...
Tive amores — esqueci-os.
Mas no maior desespero
Rezei: ganhei essa prece.

Vi terras da minha terra.
Por outras terras andei.
Mas o que ficou marcado
No meu olhar fatigado,
Foram terras que inventei.

Gosto muito de crianças:
Não tive um filho de meu.
Um filho!... Não foi de jeito...
Mas trago dentro do peito
Meu filho que não nasceu.

Criou-me, desde eu menino
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai!

Não faço versos de guerra.
Não faço porque não sei.
Mas num torpedo-suicida
Darei de bom grado a vida
Na luta em que não lutei!
(29 de janeiro de 1943)

Poesia extraída do livro "Antologia Poética - Manuel Bandeira", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 2001, pág. 126.


Literatura e a musica popular brasileira

Língua
Caetano Veloso

Gosta de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões
Gosto de ser e de estar
E quero me dedicar a criar confusões de prosódia
E uma profusão de paródias
Que encurtem dores
E furtem cores como camaleões
Gosto do Pessoa na pessoa
Da rosa no Rosa
E sei que a poesia está para a prosa
Assim como o amor está para a amizade
E quem há de negar que esta lhe é superior?
E deixe os Portugais morrerem à míngua
"Minha pátria é minha língua"
Fala Mangueira! Fala!

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas
E o falso inglês relax dos surfistas
Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas!
Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda
E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate
E - xeque-mate - explique-nos Luanda
Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo
Sejamos o lobo do lobo do homem
Lobo do lobo do lobo do homem
Adoro nomes
Nomes em ã
De coisas como rã e ímã
Ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã
Nomes de nomes
Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé
e Maria da Fé

Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó
O que quer
O que pode esta língua?

Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção
Está provado que só é possível filosofar em alemão
Blitz quer dizer corisco
Hollywood quer dizer Azevedo
E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo
A língua é minha pátria
E eu não tenho pátria, tenho mátria
E quero frátria
Poesia concreta, prosa caótica
Ótica futura
Samba-rap, chic-left com banana
(- Será que ele está no Pão de Açúcar?
- Tá craude brô
- Você e tu
- Lhe amo
- Qué queu te faço, nego?
- Bote ligeiro!
- Ma'de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado!
- Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho!
- I like to spend some time in Mozambique
- Arigatô, arigatô!)
Nós canto-falamos como quem inveja negros
Que sofrem horrores no Gueto do Harlem
Livros, discos, vídeos à mancheia
E deixa que digam, que pensem, que falem.

Análise

Em suas mais variadas músicas Caetano Veloso sempre nos traz uma diferente crítica, assim como podemos ver em “língua”, onde destaca-se a valorização da pluriculturalidade Brasileira.

No começo, relata que gosta de sentir sua língua roçar a língua de Luís de Camões, de falar, de escrever, se pronunciar e de se comunicar através da mesma língua que o poeta. Se dedicar a criar confusões prosódia que é a vocalização das palavras segundo as leis do acento e da quantidade ou ainda estudo dos sons da fala, do ponto de vista da acentuação, entoação, duração, etc. aqui vemos uma citação da diversas variações gramáticas que nossa língua possuí, “e uma profusão de paródias”, uma grande variedade de paródias que são a imitação burlesca de uma outra obra.

“encurtem a dores e furtem as cores como camaleões”, aqui ele relata e valoriza a pluriculturalidade brasileira, que possuí as mais variadas culturas, seja estas: musicais, poéticas, literárias entre diversas outras. Nosso país pegou cada “cor”, cada cultura de um país diferente através da influencia desses diversos povos e transformou segundo nossos próprios conceitos de cultura.

“gosto do pessoa na pessoa, da rosa no rosa”, nesse trecho ele destaca dois importantes escritores e poetas brasileiros, Fernando Pessoa e José Guimarães Rosa. Ele gosta de ver a alma poética de pessoa nas diversas pessoas, e da “sensibilidade” de uma rosa nos escritos de Guimarães. “e sei que a poesia está para a prosa assim como o amor está para a amizade”, quando nos comunicamos somos poetas, porque extravasamos sentimentos e emoções, e quem á de dizer que a amizade se concretiza sem o amor? Em ambos os casos ele associa a necessidade da poesia na conversa ou dialogo com a necessidade da existência do amor para a concretização da amizade.

“E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixe os Portugais morrerem à míngua “Minha pátria é minha língua” Fala Mangueira! Fala!” aqui vemos o patriotismo de Caetano Veloso, ao considerar sua nação “superior” em sua multiculturalidade lingüística, e deixando que os portugueses “morram à míngua”, na sua pobreza cultural, por que somos independentes e temos nossa própria cultura, “Fala Mangueira”, uma escola de samba Carioca.

Em toda sua música adiante Caetano cita diversos personagens da música e da literatura brasileira, destacando acima de tudo, sua variedade cultural, seja na língua, na forma de vestir, etc, e a gramática tão diferencial do Brasil.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Literatura de Cordel

Nosso Blog

No curso de Pedagogia
Decidimos montar
Um projeto dedicado
À cultura popular
Dentro do tema Leitura Literária
O mesmo deve estar

Professora Célia Abicalil
Nos deu liberdade para criar
Dentro do tema abordado
Resolvemos um blog dedicar
À disciplina específica
E a todos ajudar
Alunos de Pedagogia
E a quem mais interessar
Venham ler a Literatura de Cordel
E dela se apropriar
Pois faz parte da nossa cultura
Esta poesia popular


Sobre Literatura Infantil
Não vamos aprofundar
Pois tem um Blog específico
Basta você clicar
No Link logo abaixo
Que você vai se encantar  

Façam parte deste projeto
Não deixem acabar
Pois é muito interessante
Vamos acessar e postar
O que os poetas escrevem
Vale a pena divulgar
 
 



Não basta como na chamada Literatura “culta”, ler livros, meditar sobre eles, para conhecer a literatura de cordel. A simples coleção de folhetos, por mais criteriosa que seja, não basta para ensinar literatura de cordel a um intelectual ou a um simples curioso que venha de fora, pois por força de sua própria cultura e formação, tais pessoas não pertencem ao mundo da literatura popular em verso. É preciso, portanto, tentar compreender esse mundo, passando por um longo processo de aprendizagem. Assim, nem o folheto em si e muito menos um texto erudito que a ele se refira eliminariam a necessidade de se estabelecer um contato direto com tudo aquilo que está ligado à literatura de cordel.   
   
Nada substitui, por exemplo, uma andança pelo Nordeste, por sua exuberante vegetação litorânea, ou pela esturricada paisagem do sertão; pelo verde molhado das canas e águas clara das serras; pela verdadeira festa de cores e sons de suas feiras; e também pela tristeza e hospitalidade de seu povo. Uma busca de material de cordel pelo Nordeste causa um impacto no pesquisador que mora no sul. Tudo é muito interessante: conversar com os tipos simples do povo; parar junto às bancas dos folheteiros, onde alguns não são bancas, são apenas um pedaço de chão, à sombra de um guarda-sol, como a grande banca de seu Arthur, distribuído regional em Maceió, ou a de seu colega de Recife

Literatura de cordel, muitas histórias ....
Quando se fala de literatura brasileira ou qualquer outra, geralmente se aborda a literatura dos “grandes escritores”, isto é, como diria toda faixa de público que não tem acesso a tais obras. Extensíssima no Brasil, essa faixa não conhece a literatura “oficial”.
Mas não é preciso ter tido acesso à cartilha para gostar de contar e ouvir histórias... Em todo o mundo, desde tempos imemoráveis, à grande tradição da literatura escrita culta correspondeu sempre, em todas as culturas, a pequena tradição oral de contar. Às vezes porém, o contador pegava lápis e papel e se punha a escrever, ou a ditar o que já havia tempo em sua memória, ou o que de novo inventava, ampliando um pouco o seu público.
Quando surgiram as máquinas impressoras, a divulgação dessas obras de pequena tradição literária estendeu-se a um número maior de leitores. Algumas eram escritas em prosa; a maioria, porém, aparecia em versos, pois era mais fácil, a um público analfabeto, decorar versos e mais versos, lidos por alguém.
Esta foi a trajetória daquilo que se chamou, na França, literatura de colportage (mascate); na Inglaterra, chap-book ou balada; na Espanha, pliego suelto;  em Portugal literatura de cordel ou folhas volantes.
No Brasil, e também na América espanhol, a mesma trajetória foi seguida. Também aqui se conta e se canta, em prosa e verso. Há, em todo país, uma longa tradição e a presença sempre atuante de cantorias, improvisos e desafios: os poetas populares dizem, em versos, suas mágoas, alegrias, esperanças e desesperos do dia-a-dia.
Esta atividade literária adquiriu características próprias no Nordeste brasileiro, muito provavelmente pelas condições da região, que fazem dela, até hoje, um foco especialmente rico em manifestações culturais populares. Reintroduzindo a denominação portuguesa, os estudiosos chamam essa literatura popular em versos de literatura de cordel. Mas, seus produtores e consumidores nordestinos chamam-na simplesmente de folhetos. O público apreciador dessa literatura é geralmente constituído pelas camadas humildes da população rural ou urbana; mas há também leitores de classes mais elevadas que a admiram. E já foram comprovados casos de pessoas que aprenderam a ler com os folhetos de cordel.
O folheto é um livrinho geralmente impresso em papel-jornal, com número variado de páginas, sempre múltiplas de quatro. Os tipos são: folhetos noticiosos que contam fatos acontecidos, pelejas e folhetos de época, conhecidos também de folhetos de ocasião. Romances narram uma história de ficção, romances de animais encantados, romances de amor, sofrimentos.
Exemplo de folhetos de romances:
                                                                   “Este caso meus leitores
                                                                    É  de causar piedade
                                                                    Tem amor, ódio, e tragédia,
                                                                    Castigo e deslealdade
                                                                    Por isto eu o intitulei 
                                                                    Entre o Amor e a Falsidade”.
Exemplo de folhetos de época:

Pronto aqui meus bons leitores
Um livro feito na hora
Demonstrando as novidades
Que se dá de mundo afora
Quem ainda não conhece
Vai conhecer tudo agora.


Panorama da época – o fluir da poesia popular
A literatura de cordel consolidou-se entre as décadas de 30 a 50. De início rimaram-se e versificaram-se as histórias, as lendas e os exemplos de moral, que já vinham de longínqua tradição, modificados, porém, pelas condições específicas da vida nordestina.

A área de divulgação do cordel ultrapassa de muito a sua área de produção, de início Pernambuco e Paraíba. Entre 1904 e 1930, já existiam 21 tipografias que imprimiam folhetos.

No Ceará, com o desenvolvimento do sertão fértil do Cariri, graças ao Padre Cícero, amplia-se também o circuito de produção e impressão de cordel. Uma das mais importantes gráficas do nordeste, atuante até hoje, localiza-se em Juazeiro e pertence à família de José Bernardo da Silva.

As migrações dos nordestinos para o centro-sul condicionam igual migração do folheto. Quanto às notícias reescritas em verso, continuam a interessar, apesar do rádio e do jornal.

A década de 1940 a 1950 foi, apesar da censura, foi muito favorável ao cordel. Isto se confirma pelo interesse das camadas populares pela vida política do país, pelo sucesso de venda e altíssimas tiragens de toda a literatura ligada a Getúlio Vargas. O cordel acompanhou todos os passos de Getúlio Vargas em sua vida política, até a sua morte. Também constituíram sucessos de folhetos  dedicados ao governador  de Pernambuco, Agamenon Magalhães, principalmente por ocasião de sua morte.

Na década de 1960 o declínio do cordel. Entre 1960 e 1970, registrou-se séria crise no cordel. Um dos fatores incontestável foi o fator econômico, a inflação nacional.  A televisão é apontada também como um fator que colaborou com a crise do cordel por ser um moderno meio de comunicação, mas que está longe de atingir as massas carentes grandes consumidoras de cordel.  Há outros elementos que contribuíram para o declínio do cordel tais como: a falta de participação popular na vida pública, a auto-censura dos poetas; novas modas para os jovens gerando concorrência; os impostos para serem pagos do chão da feira; vários poetas que aderiram ao Protestantismo, que não podendo mentir, procuram outros ofícios.

Na década de 70, prenúncios de ressurgimento. Na década de 1970, uma nova fase na produção de cordel, assinala por um razoável aumento das tiragens. As tipografias voltam a ter uma produção que chaga a atingir a tiragem de 12.000 folhetos. Paradoxalmente, porém esse surto ocorreu não porque houvesse um substancial aumento do público tradicional de cordel, mas devido ao crescente interesse por este gênero literário, principalmente para estudos por parte de universitários brasileiros e estrangeiros.

Tudo indica que apesar da modernização, ou por causa dela a literatura de cordel ainda mantém um grande público, cujas aspirações, reações e emoções certamente, continuará a expressar. Permanece como forma de entretenimento, fato que pode ser observado junto a tantos migrantes, em São Paulo ou no Rio de Janeiro, que se deleitam quando lhes caem em mãos folhetos conhecidos e, às vezes, ainda guardados de cor.

Inspirações para escrever o cordel:
Antonio Conselheiro ( 1830/1897) – O movimento social com fundo religioso de maior expressão no Brasil que está ligado a Antonio Conselheiro Vicente Mendes Maciel, mais conhecido Antonio Conselheiro. De origem humilde, identificou-se como beato por volta  de 1870, passando a pregar no sertão nordestino.

Barbatão – Touro bravio, criado nas matas.

Batatão – Mito brasileiro, explicativo do fogo-fátuo ou fogo de Santelmo, no Ceará é descrito como uma bola de fogo que persegue os viajantes.

 Beatos – Afigura do beato era comum no Nordeste. Sua origem está relacionada com as atividades do Padre José Maria Ibiapina, que fazia peregrinações e obras de caridade pelo sertão, motivando o surgimento de novos beatos pelo sertão intensificando a religiosidade.

Frei Damião (1898/1997) – Missionários  ordem do capuchinhos, realizava peregrinações pelo Nordeste.
 Fósseis – A bacia sedimentar na região do Cariri é dos mais importantes depósitos de fósseis no mundo, devido a quantidade e qualidade de preservação dos exemplares ali existentes.

Gonzagão (Luiz Gonzaga – 1912/1989) – Nasceu em Exu, Pernambuco. Desde criança se interessou pela sanfona de oito baixos do pai a quem ajudava tocando zabumba e cantando em festas religiosas e forrós.

Padre Cícero (1844/1934) – Nascido na cidade de Crato, no Ceará, deu início ao sacerdócio junto à população pobre de sertanejos, num povoado marcado pela violência e pobreza. Sob sua liderança, esse lugar alcançou notável desenvolvimento transformando-se na cidade de Juazeiro do Norte.

Getulio Vargas presidente e sem falar em Lampião e seus cabras...

Pioneiros da poesia de cordel

Silvano Pirauá de Lima (1848/1913) – Introduziu várias inovações na cantoria; no tempo em que esta ainda seguia a linha tradicional da quadra (quatro versos ou quatro linha), sentiu necessidade de expandir as idéias e introduziu a sextilha (seis versos).

Leandro Gomes de Barros (1865/1918) – Soube aliar sua vivencia de poesia vinda da mocidade  tornando-se, autor, editor, proprietário e desenvolvia sua histórias em mais de um folheto, ou publicava várias num só folheto.

Francisco Chagas Batista (1882/190) – Cantador da região do Teixeira.

João Melchíades (1869/91933) – Cantador da região do Teixeira.

João Martins de Athayde (1880/1959) – Poeta-editor que comprou da viúva de Leandro Gomes de Barros os direitos autorais do poeta. – Durante 30 anos foi o maior editor de folhetos do Recife. Modernizou a produção, dando-lhe as feições que tem hoje.
Bibliografia:
Meyer Marlyse – Autores de Cordel/seleção de textos e estudo crítico – São Paulo: Abril educação, 1980.

Holanda Arlene – Livro Cordel de Trancoso – Ministério da Educação FNDE/PNBE – 2010.


O Cordel na Sala de Aula: ampliando o repertório dos estudantes e desenvolvendo o comportamento leitor

A Revista Nova Escola de junho/julho 2011 traz uma importante reflexão acerca da literatura de cordel em sala de aula. A matéria “Ler por prazer no ritmo do cordel”, de Cyntia Calhado, é muito interessante e, além da tarefa de informar sobre a riqueza da literatura de cordel, a autora contribui com os professores na medida em que fornece uma maravilhosa sequência didática sobre o famoso cordel Pavão misterioso, de José Camelo de Melo Rezende.
A intenção de trabalhar o cordel em sala de aula não é simplesmente o de retratar um gênero literário típico do Nordeste brasileiro, mas é acima de tudo um instrumento que propicia o gosto e o hábito da leitura nos jovens. Para tanto se faz necessário reconhecer as características específicas dos folhetos, suas mais variadas formas de escrita, a musicalidade presente nas rimas, o usos de regionalismos e metáforas.
Cyntia Calhado propõe 8 passos descritos em reposta aos questionamentos que surgem quando se pretende estudar o cordel em sala de aula, além disso vão auxiliar o professor a otimizar a tarefa. As perguntas que devem ser pensadas são: 1- Qual é a melhor maneira de ler a poesia de cordel para os alunos em sala de aula? ; 2-E os estudantes, como devem fazer a leitura? ; 3- Depois de ler, o que discutir com as crianças? ; 4-De que forma explicar palavras fora do padrão? ; 5-Como abordar regionalismos e metáforas? ; 6-Quais devem ser os critérios na hora de selecionar os textos que serão lidos? ; 7-Dá para trabalhar o cordel no início da alfabetização? ; 8-Onde encontrar boa literatura do gênero?

Revista Nova Escola. Junho/Julho 2011. n:243. Ano XXVI.



http://www.youtube.com/watch?v=Pv8x3ulR9RA&feature=related


Caminhos diversos sob os signos do cordel 

A literatura brasileira é muito diversificada, principalmente quando é escrita pelo e para o povo. A literatura de cordel é um grande exemplo de riqueza das manifestações artísticas do povo brasileiro, sendo fonte de inspiração para o cinema, para a novela, o teatro, as artes plásticas dentre outras. Fomentando dessa maneira a produção de livros que contribuam para a informação, manutenção e deslumbramento da literatura de cordel em nossa sociedade.

O livro “Caminhos diversos sob os signos do cordel” faz parte do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE/2010, encaminhado às bibliotecas de todo o Brasil.
Tendo por objetivo disseminar a literatura de cordel é que o autor cearense Costa Senna escreveu esse livro tão cheio de poesia e imagens de xilogravura. Costa Senna nasceu e viveu no Ceará, porém, desde 1990 vive em São Paulo e, além de poeta popular, o autor é músico e ator.

O livro é uma publicação da Global Editora, possui 160 páginas, foi organizado por Marco Haurélio Fernades Faria, ilustrado por Jô Oliveira e apresenta 18 folhetos de cordel escritos sob os mais diversos assuntos.
No cordel “Nas asas da leitura” o autor nos apresenta a história da escrita fazendo uma longa trajetória até abordar o livro e sua importância. A seguir um trecho retirado desse folheto:

"Neste cordel falarei
Sobre o meu melhor amigo,
Que me ajuda a encontrar
Lazer, trabalho e abrigo.
Desde meus primeiros anos,
Ele é parte dos meus planos
E segue sempre comigo

Leio livro em minha cama,
Em ônibus, metrô ou trem,
Em navio ou avião,
Ou mesmo esperando alguém.
Leio para o povo ouvir.
Leio para transmitir
A riqueza que ele tem

Eu sou amigo do livro
Desde quando menininho.
Ele me dá auto-estima.
Na leitura me alinho,
Acho razões pra lutar,
Com virtude, retirar
As pedras do meu caminho.

Há cinco mil e quinhentos
Anos, a Ásia surpreendeu,
Pois, criando o alfabeto,
A escrita apareceu.
Veja só que linda ação,
Foi aí dessa união
Que nosso livro nasceu."

Em “Lembrando o Brasil caboco”, “Sem terra” e “Nas quebradas do Sertão” estão presentes as recordações boas e ruins de Costa Senna no Nordeste brasileiro e em São Paulo. Também com um traço de biografia o folheto “Cante lá e cante cá” resgata a vida e obra de Antônio Gonçalves da Silva (Patativa do Assaré).
A composição poética “Viagem ao mundo do alfabeto” é um ABC, no qual “cada estrofe é iniciada por uma letra do alfabeto, o que favorece – ou favorecia – a memorização nas comunidades que mantêm - ou mantinham – como traço marcante a oralidade”. (SENNA, Costa. pg. 11. 2008)
Enfim, o livro é um convite ao conhecimento e embelezamento no mundo dos folhetos de cordel. É um excelente apoio às proposições pedagógicas que retratem a cultura nordestina e sua diversa e rica manifestação cultural.

SENNA, Costa. Caminhos diversos sob os signos do cordel. Editora Global, São Paulo, 2008.

Lampião e Lancelote

O que poderia acontecer se o nosso famoso cangaceiro do sertão nordestino se encontrasse com um dos cavaleiros medievais da Távola Redonda do Rei Arthur? Este encontro mais do que inusitado fez com que o ilustrador e autor Fernando Vilela compusesse uma obra extremamente original, mesclando linguagens diversas: em verso, na sextilha do cordel sertanejo, e em prosa, no tom das narrativas épicas da cultura medieval; em carimbo e xilogravura. O confronto entre Lampião e Lancelote se estende nas cores especiais que vêm preencher as páginas: o prata e o cobre, em contraste com o negro, compondo imagens de uma beleza plástica deslumbrante. O livro ainda traz um glossário de termos e um texto explicativo sobre as referências de Vilela para desenvolver esta obra grandiosa, no tamanho e no talento. O resultado, como diz Braulio Tavares no texto de quarta capa, "é uma aventura visual e poética à altura das duas culturas que a inspiraram".


3ª reimpressão, 2009
Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) 2008




Pesquisa empírica: Tela de Leonardo da Vinci - A Virgem e o Menino


A Virgem e o Menino com Santa Ana, óleo sobre madeira (168 cm x 112 cm), é obra de Leonardo da Vinci, pintada em Milão entre 1508 e 1513. Leonardo nunca finalizou este painel.
Leonardo havia conquistado total maestria ao modelar o rosto humano. A Virgem e Santa Ana, nesta pintura têm as mesmas características que as mulheres que ele já havia pintado. Os rostos são calmos e serenos. A paisagem é parecida com a do quadro Mona Lisa.
Recentemente, após um exame laboratorial, três desenhos (uma cabeça de cavalo, metade de um crânio humano e de um menino Jesus com um cordeiro) foram descobertos no reverso do quadro do pintor florentino que se encontra exposto no Museu do Louvre.

Foram feitas entrevistas de leitura da figura com 3 pessoas, que aqui usarei nomes fictícios.

A Entrevistada 1: Que chamarei de Maria, tem 64 anos, estudou até a 4ª série. Gosta de ler e já leu mais de 3.000 livros.

Pergunta 1: Maria, como você leria uma figura?
Resposta: Não sei se a gente lê figura, eu sei que a gente olha e admira.

Pergunta 2: Se te mostrar uma figura você a descreveria para mim, ou seja, você a leria para mim?

Resposta: Sim, eu leria, você me ajuda a ler?

Mostrei então a figura da Virgem e o Menino, de Leonardo da Vinci. Eis as impressões da Maria ao ver a figura:
Maria: Nossa, são duas mulheres sentadas uma no colo da outra, um rosto esquisito, o menino estranho, mas, olha só uma das patinhas do carneiro parece com pé de galinha, os pés delas são delicados para estarem descalços em pedras. Não gostei daquela árvore não e esse manto caído na virgem é mais escuro, estranho...

Entrevistada 2: Que chamarei de Camila.

Camila é Advogada formada a muitos anos, tem 52 anos e atualmente lê quando dá tempo.
Fiz então as mesmas perguntas que fiz com a Maria.

Pergunta 1: Camila, como você leria uma figura?

Resposta 1: Bom, quando olho uma figura, tento ler o que vejo do meu modo, depois vejo se bate com o que o artista quis passar, sempre erro..risos...

Pergunta 2: Se te mostrar uma figura você a descreveria para mim, ou seja, você a leria
para mim?

Resposta 2: Sim, pode me mostrar.

Mostrei a figura a virgem e o menino de Leonardo da Vinci...

Segue a sua descrição:
Eu nunca vi essa tela antes, quem pintou? Respondi. Hum, muito interessante, parece com a Monalisa os rostos das mulheres, achei estranho o menino. Perguntei: Você não não ler mais nada? Não não vejo mais nada, ao não ser que achei a roupa da virgem sensual e esse manto cobrindo as suas pernas denota que estava um pouco frio por lá.

Entrevistado 3: Que chamarei de Cauã, um menino de 4 anos.

Já fui logo mostrando a figura e ele me dizendo: o que é isso? Perguntei, o que você vê nesta figura? Resposta: Um homem e uma mulher, tem um bichinho com o neném. Quando disse que eram duas mulheres ele me disse: Não, parece homem o outro, porque perguntei? O outro não tem barba e não está sério ora! Perguntei: nesse manto aqui da virgem você vê alguma coisa? Não só o manto, parece aquelas cobertas dos mendigos que minha mãe me mostrou..risos... Mas aqui, (lado esquerdo de quem está em frente da tela), parece um bico de urubu. Saiu correndo e foi brincar!

Nenhum dos entrevistados conseguiram visualizar ou fazer a leitura em que veriam um pássaro relacionado com o manto que envolve as duas personagens da pintura, ou a metade de um crânio. A leitura da criança é a mais rica em delalhes e em importância, levando em conta o tempo histórico da criança e da pintura. A leitura tem que ser prazeirosa, tanto para livros como figuras e as interpretações sofrem as influências vividas pelos sujeitos. O estímulo à leitura é que norteia as visões e ajudam em novas interpretações.