quarta-feira, 1 de junho de 2011

Do mundo da Leitura para a leitura do mundo - Marisa Lajolo

A autora discute sobretudo a prática da leitura na escola,avaliando seus pressupostos e equívocos. Do mundo da Leitura para a Leitura do Mundo é uma obra composta por dois títulos. O primeiro, "No Mundo da Leitura", é comporto por sete capítulos. O segundo, "Leituras do Mundo", por quatro. Cada capítulo é um ensaio específico que só guarda relação com os demais em razão do tema do livro:- leitura, livro didático e Escola. Outro elemento que unifica os capítulos é a linguagem expressiva (quase literária) e a constante citação de poetas e escritores para a justificação das posições teóricas adotadas pela autora. É assim que ele estreita as relações entre ciência e arte como que querendo provar que a leitura situa-se na confluência do sério e lúdico. Fruição e aprendizado, a leitura depende tanto do conhecimento de mundo do leitor quanto da capacidade do escritor de seduzi-lo.

Segundo a autora, o jovem, leitor virtual de literatura juvenil, bem como a criança, leitora virtual da literatura infantil, a construções da história, em face dessa historicidade. É possível considerar, que a leitura infantil mais antiga era conservadora, porque inculcava as crianças a comportamento e atitudes de passividade, ditava a obediência e submissão aos pais e mestres. Mesmo sabendo que ela se transforma em jovem.
É importante frisar também que a prática de leitura patrocinada pela escola precisa ocorrer num espaço de maior liberdade possível a leitura só se torna livre quando se respeita ao mesmo em momentos iniciais do aprendizado, o prazer ou a aversão de cada leitor em relação a cada livro. O seja quando não se obriga a toda a turma ler o mesmo livro, com a justificativa de que tal livro é apropriado para aquela faixa etária , ou se trata de um tema que interessa aquele tipo de criança: a relação entre os livros e faixas etárias , entre interesses e habilidades de leitura é bem mais relativa do que fazem crer a pedagogia e o marketing. (LAJOLO,1993,P.109)

Para Marisa Lajolo (1993,p.59), “Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a esta leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista.”

Portanto, lê-se para entender o mundo, para viver melhor. Quanto mais abrangente for a concepção de mundo, mais intensamente se fará leituras do mesmo. A leitura transforma sua visão de mundo, a partir do olhar do autor e das viagens possíveis de se fazer através da leitura.

A finalidade básica estabelecida para as práticas de leitura é ler para compreender os textos, participando criticamente da dinâmica do mundo da escrita e posicionando-se frente a realidade.

Enfim, para obtermos êxito nas aulas de leitura é preciso reavaliar todos os processos, pois o que está acontecendo é que a leitura nas escolas está sendo praticada para extrair do texto uma informação para responder a questões formuladas, ou seja, é simplesmente uma simulação de leitura.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. Série Educação em Ação. São Paulo: Ática, 1993.


Da Leitura Literária Escolar” à “Leitura escolar de/ da Literatura”
Poder e participação
Antônio Branco é um pesquisador português, que escreveu um interessante artigo em que discute os conceitos de Literacia/ Iliteracia, o que no Brasil corresponde a Letramento. Ele critica a dicotomia presente na sociedade constituída pelos que dominam habilidades de leitura e escrita e os que não dominam, e diz que essa dicotomia confere ao primeiro grupo o poder social e político de determinar as práticas de literacia do segundo, como se todos fizessem o mesmo uso social da leitura. Para o autor, o termo iliteracia em uma sociedade letrada é impossível, pois todos que dela participam se relacionam de alguma forma com a leitura e a escrita, fazendo usos diferenciados. Partindo dessa idéia questiona ainda o modo como a escola faz uso da leitura literária, pois sempre que o ato de ler do aluno é comparado com parâmetros do ato de ler do professor, estabelece-se uma relação de poder que em nada contribui para uma leitura crítica por parte do aluno. Ao contrário, coloca-o como receptáculo do saber do professor, pois ele lê com o objetivo de responder questões colocadas pelo professor e não para criar suas próprias questões a respeito do que leu. O autor conclui apresentando algumas sugestões de possibilidades de trabalho pedagógico com leitura literária, lembrando que os projetos escolares de leitura literária não podem ignorar as práticas e os usos dos alunos e que não há como ensinar literatura sem conhecer os leitores desse processo.

PAIVA, Aparecida; MARTINS, Aracy; PAULINO, Graça; VERSIANI, Zélia (orgs.). Leituras Literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005. (Coleção Literatura e Educação)


"Algumas especificidades da leitura literária"
Maria das Graças Rodrigues Paulino

Paulino expõe neste artigo que a diversidade de textos existentes na sociedade requer diversos modos de leitura e, portanto, deve-se falar em letramentos, ao invés de letramento. Afirma que não é fácil encontrar o ponto de equilíbrio entre o que une e o que separa as diversas práticas sociais de leitura e as características específicas de cada uma. Critica o uso da leitura literária para fins não literários pela escola, quando esta utiliza textos literários apenas para o ensino de conteúdos da gramática, ou os trata da mesma forma que trata os textos informativos. A autora fala ainda de uma "hierarquização ideológica de textos e leituras" (p.58), em que a "sociedade da informação" privilegia a leitura crítica de textos informativos. Para a autora, as competências e habilidades dos leitores para a leitura literária perpassam o aspecto cognitivo, comunicativo, interacional e afetivo, e não apenas habilidades estéticas, devendo ser considerada ainda a complexidade dos processos histórico-sociais nela envolvidos. Aqui percebe-se referência aos estudos de Bernard Lahire, em que ele questiona o determinismo tradicional que considera que as camadas pobres da população não apresentam disposições para a leitura literária. De acordo com o sociólogo francês, essas disposições podem ser enfraquecidas ou reforçadas, já que dependem de prioridades políticas e econômicas, capazes de influenciar comportamentos coletivos.

Finalizando o trabalho, a autora questiona: por que a leitura literária deveria ser tomada como uma competência socialmente relevante hoje? Em seguida ela dá algumas pistas para responder a questão.

As motivações para a leitura literária teriam de ultrapassar esse contexto de urgência e ser encaradas em nível cultural mais amplo que o escolar, para que se relacionem à cidadania crítica e criativa, à vida social, ao cotidiano, tornando-se um letramento literário de fato, ao compor a vida cotidiana da maioria dos indivíduos. (PAULINO, 2005, p.65)
           
O artigo citado é de extrema relevância para se entender as especificidades da leitura literária, bem como para o educador estar atento às formas de utilização dela no contexto da sala de aula. Não que ela não possa ser usada para fins educacionais, mas este não deve ser o principal objetivo. A leitura literária deve ser incentivada, considerando a motivação e os valores sociais dos leitores e nunca como imposição de normas e padrões sociais. O leitor deve sempre ter a iniciativa de escolher o que ler ou não e saber os motivos dessa escolha. Somente assim a leitura terá utilidade prática em sua vida, colaborando para uma visão crítica do mundo.

PAIVA, Aparecida; MARTINS, Aracy; PAULINO, Graça; VERSIANI, Zélia (orgs.). Leituras Literárias: discursos transitivos. Belo Horizonte: Ceale; Autêntica, 2005. (Coleção Literatura e Educação)


Literatura para a vida

A palavra literatura vem do latim “litterae”, e significa um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, refere-se ao ofício de escrever de forma artística. Como nos ensina Carlos Drummond Andrade, ao escrever um texto literário, o escritor “penetra surdamente no reino das palavras”, pois, além de transmitir uma idéia sobre determinado tema, ele preocupa-se em usar as palavras de forma que o texto fique mais belo e que apresente um efeito emocional no leitor. A forma artística de escrever tem lugar privilegiado neste tipo de texto, em que a liberdade de expressão é muito presente, sendo possível o uso de linguagem metafórica e outros recursos como ritmo, sonoridade, formas diferenciadas de organização e caráter ficcional. Todos esses recursos, ao serem incorporados ao texto torna-o intocável, ou seja, a organização estética do texto não deve ser modificada com tentativas de resumi-lo ou traduzi-lo. Além dessas diferenças em relação a outros tipos de texto, pode-se dizer que o texto literário possui a especificidade de mudar as regras da vida real e dizer o mundo de uma outra maneira, recriando-o no plano imaginário, de forma que o leitor também experimente a sensação de que a realidade não precisa ser tão inflexível. Assim, ele encontra neste gênero textual elementos que se misturam aos seus sentimentos, emoções e memórias, e nesta interação se torna capaz de modificar seu conhecimento e sua maneira de ver o mundo.

MARTINS, Aracy Alves... [et al.] (org.) Livros & telas. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

 
Formação de professores e os desafios contemporâneos dos livros de literatura

O presente artigo fala sobre a formação dos professores, focando a importância destes trabalharem com livros contendo textos imagéticos. Os professores que estão se formando pela Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE-UFMG), tem acesso a esse tipo de informação, para poderem trabalhar com seus alunos em sala de aula. Sendo que desde 1998, são elaboradas pesquisas enfatizando a importância da presença de imagens, nas atividades de leitura e produção de textos. Baseados nas reflexões da leitura de Mario de Andrade a respeito da natureza do desenho.

Em pesquisa realizada no Centro Pedagógico, pela professora Mônica Dayrell, a mesma relata que ao colocar os alunos em contato com o livro “A pequena marionete” de Gabriele Vincent, o primeiro grupo de alunos montou uma história de acordo com as imagens, mas quando chegou em determinado ponto, perderam o interesse ou ficaram cansados e foram escolher outro livro, já que leitura de imagens não fazia parte da rotina da turma. No dia seguinte, outro grupo de alunos fez interpretação do mesmo livro e montaram a história até o final. O interessante é que as histórias são contadas de maneira diferente, pois cada pessoa quando analisa uma imagem, vê detalhes que outros não vêem, até mesmo as expressões do rosto dos personagens são reparadas, talvez até mesmo associando a detalhes da vivência ou do cotidiano.

Comparei a pesquisa da professora Mônica Dayrell, com a aula que tivemos na disciplina de Fundamentos e Metodologia da Língua Portuguesa, com a professora Célia e achei interessante porque ao analisar as imagens do livro, cada integrante do grupo percebia um detalhe diferente e assim fomos montando a história. No final, tivemos que contar a nossa experiência com um livro que contém somente imagens. Considerei a atividade muito estimulante e prazerosa.

Acredito ser de extrema relevância, colocar o aluno em contato com atividades que despertem para o senso crítico e colaboram para a formação de um indivíduo, proativo, dinâmico e mais preparado para fazer interpretações, não só textuais, mas também em outros aspectos da vida pessoal. Como dito pela professora Mônica “(...) seria mais conveniente se, nas escolas de ensino fundamental, a iniciação à leitura de imagens precedesse a alfabetização convencional. Certamente teríamos no futuro melhores leitores e apreciadores das artes plásticas, do cinema e TV, além de cidadãos mais críticos e participativos diante de todo o universo icônico que nos cerca (...)”.

Após, nós, professores termos passado, por essa experiência socializadora de saberes, a intenção é que saibamos ler a partir dos pressupostos da visualidade. Enfrentando assim, o desafio de divulgar os livros de literatura.

BELMIRO, Célia Abicalil; DAYRELL, Mônica, Livros e Telas, Belo Horizonte, Editora UFMG, 2011. p.175-187.

 

2 comentários:

  1. Boa Noite

    Como é difícil de achar livros em pdf para concluir trabalho acadêmico... preciso já fazer um trabalho, já me baseando no que será meu TCC, bem complicado, maravilhoso seu Blog

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